quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A influência da cultura africana no Brasil

  
Desde a chegada dos negros no Brasil, houve uma grande influência da cultura africana na nossa maneira de viver em muitas circunstâncias.
 Podemos destacar a presença afro-brasileira na nossa língua, de proveniência africana temos as seguintes palavras: cachaça, moleque, quindim, jiló, macumba, marimbondo, cochilo, tanga, samba, maxixe, zabumba, acarajé, carimbó, canjica, etc. Também se destacam nomes: Jurema, Iuri, Joaquim, Jusefa, etc. Não podemos nos esquecer da importância que trouxeram na alimentação: paçoca, feijoada, quindim, tapioca, bolo de fubá, acarajé, vacapá, bobó, feijão mulatinho, dendê, inhame e aipim. O Brasil teve uma forte influência da religião africana, tais como a Cacumba, Iemanjá e o Candoblé. O candoblé por exemplo, é uma religião fetichista(mas que sofreu influências do cristianismo), hoje comum no nosso país e que veio originalmente da África.
O racismo e o preconceito têm sua raiz no processo de escravização dos povos africanos pelos europeus. Os escravos eram empregados em praticamente todas as atividades nos três séculos e meio que durou a escravidão em nosso país.
Esse povo sofreu, mas trouxe consigo características que não se perderam com o tempo e permanecem até hoje aucumulada na diversidade brasileira.

A influência europeia

A Bahia ainda guarda diversas características da colonização e influência dos portugueses, nos aspectos cultural, político, administrativo e na arquitetura de estilo barroco português dos casarios, solares e prédios públicos do Centro Histórico, além de dezenas de igrejas e templos católicos, datados  dos séculos XVI e XIX.
Desde a chegada de Tomé de Sousa, na antiga Vila do Pereira (onde é hoje o Porto e a Ladeira da Barra), região do primeiro donatário da capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, a capital baiana cresceu seguindo os padrões e a orientação do então rei de Portugal, Dom João III. As primeiras construções foram edificadas na parte alta da cidade com o objetivo protecionista. Nos casarios, solares e prédios públicos, os colonizadores portugueses fincaram a sua marca arquitetônica em estilo barroco em uma infinidade de construções no atual Centro Histórico de Salvador, tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade, em 1985.
Mesmo com todas as influências europeias nas construções e edificações erguidas em Salvador, os povos indígena, negro e os mestiços cederam também algumas técnicas, vistas como rudimentares para a arquitetura lusitana, que foram utilizadas em prédios públicos, como o da Câmara Municipal de Salvador. Nesta edificação foram utilizadas técnicas indígenas de massapé e taipa. Apesar disso, o domínio português sempre foi mais evidente. Estas e outras edificações sofreram modificações estruturais para receber as características do estilo lusitano.
Salvador e outras cidades da Bahia mantêm características portuguesas, mas possuem também forte influência dos povos indígenas, dos negros e dos mestiços. Grande parte da culinária, das manifestações artísticas, culturais e religiosas no Brasil é de origem indígena, negra e mestiça. A mistura entre as culturas, que gerou a identidade brasileira, incorporou novos elementos influenciados por elementos culturais e artísticos indígenas e dos negros escravos. Até a língua portuguesa sofreu inúmeras alterações, incorporando aspectos miscigenados.
Nesse mosaico cultural, além da arquitetura, destacam-se, como influência dos europeus, os ritos e rituais da Igreja Católica, aspectos do folclore, como músicas e danças, e a culinária relacionada às caldeiradas (ensopados com verduras variadas), os pratos à base de bacalhau, e, principalmente, os doces.

Cultura afro-brasileira no Brasil.

Denomina-se cultura afro-brasileira o conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade. A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior parte, trazida pelos escravos negros na época do tráfico transatlântico de escravos. No Brasil a cultura africana sofreu também a influência das culturas europeia (principalmente portuguesa) e indígena, de forma que características de origem africana na cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras referências culturais.
Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de origem africana, tanto pela quantidade de escravos recebidos durante a época do tráfico como pela migração interna dos escravos após o fim do ciclo da cana-de-açúcar na região Nordeste.
Ainda que tradicionalmente desvalorizados na época colonial e no século XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um processo de revalorização a partir do século XX que continua até os dias de hoje.

Evolução histórica

Escravos africanos no Brasil, oriundos de várias nações (Rugendas, c. 1830).
De maneira geral, tanto na época colonial como durante o século XIX a matriz cultural de origem europeia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que as manifestações culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas, desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões afro-brasileiras e a arte marcial da capoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado, algumas manifestações de origem folclórico, como as congadas, assim como expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas.
Entretanto, a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileiras como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posição de destaque na música popular, no início do século XX.
Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de samba ganharam nesta época aprovação governamental através da União Geral das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.
Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era considerada própria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte verdadeiramente nacional".
A partir da década de 1950 as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe média carioca[1]. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser celebradas pela elite intelectual branca.
Em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluam no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.

Estudos afro-brasileiros

Bloco afro Ilê Aiyê na Bahia
O interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pelos muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros, centrados na expressão e evolução histórica da cultura afro-brasileira.
Muitos estudiosos brasileiros como o advogado Edison Carneiro, o médico legista Nina Rodrigues, o escritor Jorge Amado, o poeta e escritor mineiro Antonio Olinto, o escritor e jornalista João Ubaldo, o antropólogo e museólogo Raul Lody, entre outros, além de estrangeiros como o sociólogo francês Roger Bastide, o fotografo Pierre Verger, a pesquisadora etnóloga estadunidense Ruth Landes, o pintor argentino Carybé, dedicaram-se ao levantamento de dados sobre a cultura afro-brasileira, a qual ainda não tinha sido estudada em detalhe[2].
Alguns infiltraram-se nas religiões afro-brasileiras, como é o caso de João do Rio, com esse propósito; outros foram convidados a fazer parte do Candomblé como membros efetivos, recebendo cargos honorificos como Obá de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá e Ogan na Casa Branca do Engenho Velho, Terreiro do Gantois, e ajudavam financeiramente a manter esses Terreiros.
Muitos sacerdotes leigos em literatura se dispuseram a escrever a história das religiões afro-brasileiras, recebendo a ajuda de acadêmicos simpatizantes ou membros dos candomblés. Outros, por já possuírem formação acadêmica, tornaram-se escritores paralelamente à função de sacerdote, como é caso dos antropólogos Júlio Santana Braga e Vivaldo da Costa Lima, as Iyalorixás Mãe Stella e Giselle Cossard, também conhecida como Omindarewa a francesa, o professor Agenor Miranda, a advogada Cléo Martins e o professor de sociologia Reginaldo Prandi, entre outros.
Ver:Anexo:Lista de livros com tema afro-brasileiro

Religião

Os negros trazidos da África como escravos geralmente eram imediatamente batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A conversão era apenas superficial e as religiões de origem africana conseguiram permanecer através de prática secreta ou o sincretismo com o catolicismo.
Algumas religiões afro-brasileiras ainda mantém quase que totalmente suas raízes africanas, como é o caso do Candomblé e do Xangô do Nordeste; outras formaram-se através do sincretismo religioso, como o Batuque, o Xambá e a Umbanda. Em maior ou menor grau, as religiões afro-brasileiras mostram influências do Catolicismo e da encataria europeia, assim como da pajelança ameríndia[3]. O sincretismo manifesta-se igualmente na tradição do batismo dos filhos e o casamento na Igreja Católica, mesmo quando os fiéis seguem abertamente uma religião afro-brasileira.
Já no Brasil colonial os negros e mulatos, escravos ou forros, muitas vezes associavam-se em irmandades religiosas católicas. A Irmandade da Boa Morte e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram das mais importantes, servindo também como ligação entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras. A própria prática do catolicismo tradicional sofreu influência africana no culto de santos de origem africana como São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixás africanos como São Cosme e Damião (ibejis), São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã); na criação de novos santos populares como a Escrava Anastácia; e em ladainhas, rezas e festas religiosas (como a Lavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia são lavadas com água de cheiro pelas filhas-de-santo do candomblé).
As igrejas pentencostais do Brasil, que combatem as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas como se nota em práticas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais (vistas como maléficas). Enquanto o Catolicismo nega a existência de orixás e guias, as igrejas pentencostais acreditam na sua existência, mas como demônios.
Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de origem africana, embora um número maior de pessoas sigam essas religiões de forma reservada.
Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileira foram ou são praticadas abertamente por vários intelectuais e artistas importantes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia (que freqüentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para o Orixá Obaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixá Mãe Senhora), Antonio Risério, Caribé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste (que foi iniciado no candomblé ketu).
Filhas-de-santo do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia
Religiões afro-brasileiras

Arte

Tecelã do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador, Bahia
O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de Casa do Alaká[4]. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos Egungun e Assògbá (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra, é também escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a mitologia e arte yorubana.[5] Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a mostrar a beleza do Candomblé, Umbanda e Batuque em suas telas. Um exemplo é o escultor e pintor argentino Carybé que dedicou boa parte de sua vida no Brasil esculpindo e pintando os Orixás e festas nos mínimos detalhes, suas esculturas podem ser vistas no Museu Afro-Brasileiro e tem alguns livros publicados do seu trabalho. Na fotografia o francês Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a Bahia e ficou até o último dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro e todas as nuances do Candomblé, não satisfeito só em fotografar passou a fazer parte da religião, tanto no Brasil como na África onde foi iniciado como babalawo, ainda em vida iniciou a Fundação Pierre Verger em Salvador, onde se encontra todo seu acervo fotográfico.

Culinária

A feijoada brasileira, considerada o prato nacional do Brasil, é frequentemente citada como tendo sido criada nas senzalas e ter servido de alimento para os escravos na época colonial. Atualmente, porém, considera-se a feijoada brasileira uma adaptação tropical da feijoada portuguesa que não foi servida normalmente aos escravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional foi muito influenciada pela cozinha africana, mesclada com elementos culinários europeus e indígenas.
A culinária baiana é a que mais demonstra a influência africana nos seus pratos típicos como acarajé, vatapá e moqueca. Estes pratos são preparados com o azeite-de-dendê, extraído de uma palmeira africana trazida ao Brasil em tempos coloniais. Na Bahia existem duas maneiras de se preparar estes pratos "afros". Numa, mais simples, as comidas não levam muito tempero e são feita nos terreiros de candomblé para serem oferecidas aos orixás. Na outra maneira, empregada fora dos terreiros, as comidas são preparadas com muito tempero e são mais saborosas, sendo vendidas pelas baianas do acarajé e degustadas em restaurantes e residências.

Música e dança

A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau, ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos.
A música popular brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de música afro-brasileira mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada e o maxixe.
Como aconteceu em toda parte do continente americano onde houve escravos africanos, a música feita pelos afro-descendentes foi inicialmente desprezada e mantida na marginalidade, até que ganhou notoriedade no início do século XX e se tornou a mais popular nos dias atuais.[6]
Instrumentos afro-brasileiros

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Cultura dos Povos Indígenas

Cerca de 200 sociedades indígenas vivem no Brasil. São quase 200 culturas, com língua, religião e organização social distintas entre si. Trata-se de um dos maiores acervos culturais do mundo, que tem atraído ao País centenas de estudiosos e especialistas, principalmente lingüistas e antropólogos. Este acervo, entretanto, vive sob constantes ameaças, que têm como causa básica os conflitos fundiários e o avanço dos não-índios sobre as terras indígenas. A Constituição Federal estabelece como direito inalienável aos povos indígenas a posse sobre a terra que ocupam, mas, dada a vastidão do território brasileiro e a escassez de recursos, a agência governamental encarregada de defender e garantir os interesses e os direitos indígenas, a Funai (Fundação Nacional do Índio), tem dificuldades de fazer cumprir a legislação, garantir um adequado atendimento de saúde e educação e implementar os projetos de atividades produtivas.  A cultura material dos povos indígenas expressa aos outros setores da sociedade a sua visão de universo e, quase sempre, cumpre uma função utilitária no cotidiano da comunidade tribal. Mas esta visão vem sendo influenciada pelas mais variadas formas de pressão a que estão submetidos os povos indígenas brasileiros, cujas terras são ambicionadas pelos regionais, em virtude das riquezas da flora, fauna e do subsolo.  A carência de recursos, aliada à influência das populações não-indígenas tem repercutido na produção cultural dos povos indígenas brasileiros. Excluem-se dessa tendência os indígenas que ainda vivem isolados, sem qualquer contato com o chamado mundo civilizado, que a Funai estima em cerca de 60 comunidades na Amazônia.  A influência dos regionais sobre os povos indígenas pode ser constatada nas peças artesanais. Nos últimos anos, os técnicos da Funai verificaram uma queda na qualidade dos artesanatos indígenas. Este processo coincide com o avanço dos não-índios sobre seus territórios, que tem provocado modificações ambientais e privado os índios da matéria-prima necessária à produção da sua arte. Além disso, os baixos investimentos nas áreas de educação, saúde e atividades produtivas, deixou as sociedades indígenas mais suscetíveis às influências dos regionais e dependentes dos benefícios do Estado.  A necessidade de sobreviver em condições adversas levou os Pataxó Hã-Hã-Hãe, localizados no sul da Bahia, a produzirem intensamente seus artesanatos, sem a tradicional qualidade. Cercados por fazendeiros e ainda hoje lutando pelo direito à posse imemorial da terra por eles ocupada, seu espaço físico foi bastante desmatado e sua flora local reduzida. O artesanato Pataxó está longe de representar toda a sua cultura material. Hoje, eles produzem peças visando a arrecadarrecursosquelhespermitam consumir bens e produtos produzidospelos  não índios. Anteriormente, o artesanato Pataxó era rico em penas de aves típicas da região e que revelavam aspectos da sua cultura mítica. As penas usadas hoje são de aves comuns, tingidas com cores fortes, que estão longe de retratar a verdadeira cultura Pataxó. Eles optaram ainda pela produção de pentes e outros apetrechos em madeira, que têm boa aceitação comercial.  Os índios Fulniô, no Estado de Pernambuco, também enfrentam situação semelhante. Exímios na arte do trançado, os Fulniô encontram muita dificuldade em obter matéria-prima para a produção de cestos, tapetes e outras peças. Assim, os Fulniô também fazem trabalho em madeira (gamelas, pentes, entre outros objetos) com objetivo puramente comercial. A
pressão dos civilizados, entretanto, não alterou o comportamento religioso nem influiu na organização social do grupo. Os Fulniô têm a preocupação de preservar a própria língua, realizar seus rituais e ensinar aos mais jovens as tradições do grupo.  Os Guarani-Kaiowá, naturais do Mato Grosso do Sul, são outro exemplo de povo extremamente afetado pelo contato com a sociedade nacional. A cada ano é mais elevado o número de suicídios nesse grupo. Nos últimos anos, a Funai tem investido muito para recuperar os territórios tradicionalmente ocupados pelos Guarani-Kaiowá e dominados irregularmente por produtores de soja e agropecuaristas, a fim de garantir a sobrevivência física e cultural deste grupo que, no passado, se espalhava da região Centro-Oeste até o Sul do País.  A perda gradual do espaço geográfico da aldeia (tekoha) comprometeu a organização social dos Guarani-Kaiowá, fortemente ligada aos seus conceitos míticos. O espaço da aldeia tem uma relação com o sagrado e a sua perda implica em falta de referencial para as demais atividades do grupo. Não só a perda do Tekoha alterou os aspectos culturais desses índios. O processo de anulação dos valores culturais dos Guarani-Kaiowá se deveu, em grande parte, à presença de várias seitas protestantes, que penetram no grupo com o objetivo de dar-lhes assistência. Esta influência das missões religiosas, impondo conceitos estranhos a eles, como o do pecado, gerou conflitos.  Sem o referencial místico, intrínsico à terra que deveriam ocupar, e contaminados por outros entendimentos de religiosidade, muitos índios viram e ainda vêem no suicídio uma alternativa para acabar com o próprio conflito interno. Quando não tomam esta atitude extrema, entregam-se ao consumo de bebidas alcóolicas, que, igualmente, leva a sua degradação. Alguns, entretanto, buscam a alternativa de se empregarem nas fazendas instaladas em suas terras tradicionais. Esta decisão, por si só, já representa um total distanciamento do padrão cultural de um Guarani-Kaiowá. Os índios são sub-empregados. Entretanto, é a forma que vários Guarani-Kaiowá encontram para, pelo menos, se manterem vivos na esperança de poderem, um dia, retomar o tekoha.  As populações indígenas do Sul do País, como os Guarani, Kaingang e Xokleng não têm uma produção relevante de cultura material, que semanifeste através de  um artesanato próprio, seja ele cerâmica, arte plumária ou outros objetos. Isto pode ser comprovado pelo fato de o Departamento de Artesanato Indígena (Artíndia) da Funai não receber peças produzidas por esses povos, que vivem espalhados pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embora preservem a língua e seus hábitos, estes grupos enfrentam sérios conflitos pela posse na terra, devido à alta densidade demográfica registrada naquela região. Esta luta pelo espaço físico e o longo contato com a população branca levaram os índios a praticamente abandonar a sua produção artística. Grande parte desses grupos incorporou elementos predominantes no comportamento da sociedade nacional e se dedica à atividade agropecuária.  Programa de ação cultural A Fundação Nacional do Índio acredita que a cultura indígena somente sobreviverá, em toda a sua riqueza, com um trabalho integrado, envolvendo as áreas de saúde, educação, meio ambiente e atividades produtivas. Somente esclarecidos os índios poderão entender os efeitos negativos da degradação ambiental sobre as suas manifestações culturais, sobre a saúde do grupo e sobre a sua organização social. O mesmo entendimento vale para as áreas
de saúde e atividades produtivas. O índio enfermo é incapaz de produzir e se lhe faltar meios materiais para suprir as necessidades básicas ele, igualmente, não terá capacidade de preservar suas tradições.  Os técnicos da Funai estão empenhados em elaborar um programa, a ser implementado a partir de 1995, que se subdivide em dois grandes projetos: 1) Memória Indígena e 2) Difusão da cultura indígena à sociedade.  O projeto Memória Indígena tem vários objetivos, destacadamente o de registrar os valores culturais, atentando para a sua proteção e disseminação entre os vários setores da sociedade. Para isso, a Funai pretende desenvolver ações junto às sociedades indígenas, a fim de garantir-lhes o suporte técnico e científico para que retomem a produção de peças e objetos que retratam a especialidade do grupo, obedecidos os critérios e técnicas tradicionais. O projeto Memória prevê ainda a formação de acervos das várias culturas materiais dos grupos tribais brasileiros. Este trabalho de preservação e recuperação dos valores culturais indígenas, que a Funai pretende intensificar em 1995, vem sendo experimentado em várias tribos que habitam a região Centro-Oeste.  A educação bilingüe das comunidades indígenas influiu na organização social das tribos. Muitos jovens deixaram suas aldeias e se afastaram das tradições culturais para buscar conhecimento formal nos centros urbanos. Esta migração foi forçada, em parte, pelo fato de os povos constatarem a necessidade de formar pessoal capaz de entender a linguagem e os códigos dos brancos, e, assim, saberem lutar pela defesa dos seus interesses. Hoje, os índios mais velhos, anteriormente figuras sagradas dentro da organização social dos grupos, reclamam da rebeldia dos jovens, que nem sempre aceitam as suas orientações. 

Cultura indígena influencia sociedade brasileira
Helaine Dias de Castro




Desde a colonização do Brasil, o modo de vida e sobrevivência dos povos indígenas se modificou muito. A cultura do homem branco influenciou de forma drástica a vida dos povos locais. Apesar disso, ainda apresentamos traços da influência indígena na cultura brasileira.

  A identidade cultural do nosso povo demonstra uma integração notória dos hábitos miscigenados. Dos índios herdamos alimentos básicos da culinária, como a mandioca e o milho, e instrumentos musicais, como flautas e chocalhos.
O emprego de elementos vegetais e animais como fonte de cura natural para doenças é largamente utilizado hoje, e chegam a se tornar alvo de pesquisadores estrangeiros e do contrabando biológico internacional. 
Apesar disso, os índios perderam o contato com a tradição da medicina natural. “O índio, se fica doente, vai para o hospital de branco, pois não sabe mais como fazer remédio, e não tem mais contato com o mato”, declara José Luiz Tserite, cacique pajé da aldeia San Felipe, no município de Campinápolis, no Mato Grosso.
  A influência do artesanato indígena, com bolsas trançadas de fios e fibras, enfeites ornamentados com penas, sementes e escamas de peixes são notados não só em nosso país, mas em outras localidades da América. 
A valorização dos produtos comercializados pelos índios ocorre de forma inferior quando eles próprios realizam o comércio. “Quando vendemos, branco quer pagar pouco, precisamos de dinheiro para pagar contas”, comenta Miguel Tsremre, de 45 anos, da aldeia Santa Clara, também do município de Campinápolis. Projetos de órgãos de apoio ao índio, como a Funai (Fundação Nacional do índio), possuem pontos de venda para esses produtos .